domingo, 23 de agosto de 2009

O MENINO QUE VIROU ARTE


Lurdinha Danezy

Era uma vez uma família comum. Nem muito triste nem muito alegre, nem muito pobre nem muito rica, nem muito bonita nem muito feia. Era mesmo uma família comum. O pai e a mãe eram artistas.
Tinham um casal de filhos, como toda família ideal e comum deveria ter.
O menino tinha seis anos, era muito esperto e talentoso, a menina tinha dois anos, uma gracinha e também esperta e talentosa. A mãe e o pai estavam bastante satisfeitos com aquela família ao mesmo tempo comum e ao mesmo tempo ideal.
Um belo dia a mãe, numa consulta habitual ao ginecologista, descobriu que estava grávida do terceiro filho. Ficou ao mesmo tempo feliz ao mesmo tempo preocupada. Lembrou de uma amiga que dizia que o terceiro filho não soma, multiplica.
Pensou, .....E agora......? Agora vamos esperar oito meses e ver a carinha do bebê. Afinal, filho é sempre um presente do universo e presentes a gente não recusa, fica feliz.
A mãe teve uma gravidez tranqüila. No finalzinho deu um pouco de trabalho, o bebê queria nascer antes do tempo. Ele tinha pressa, estava muito curioso para conhecer o mundo onde sua mãe, pai e irmãos viviam.
Um dia a mãe foi para o hospital e ele nasceu de parto normal como devem ser todos os partos. O bebê, no entanto, parecia cansado do esforço que fez e estava roxinho e molinho.
A mãe não viu seu bebê por algumas horas e já estava bastante aflita quando a enfermeira trouxe o pequeno presente.
A mãe desembrulhou o menino e contou os dedos, checou as orelhas, observou cada parte para ver se estava tudo lá e estava.
Só que ele era molinho, muito molinho.
No dia seguinte soube por que ele parecia tão diferente dos outros filhos.
Ele tinha síndrome de Down.
A mãe chorou muito, não sabia muito bem o que era aquilo, só achava que não era bom. Já tinha ouvido falar que era uma deficiência e que as crianças que nascem assim têm dificuldades para andar, falar e aprender, são sempre atrasadas.
Concluiu que tudo seria muito lento na vida dele.
A mãe voltou pra casa com muitas dúvidas e apenas uma certeza: Se houvesse alguma coisa para ser feita pelo seu filho ela faria e fez.
O menino cresceu cercado de amor, carinho e estimulação, muita estimulação. E, para surpresa de todos, andou, falou e aprendeu. Aprendeu muito. Aos quatro anos já sabia ler 35 palavras. Fez teatro, capoeira, hip hop, violão, artesanato, foi garoto propaganda, aprendeu língua de sinais e pintou, pintou muito.
Agora aquele menino molinho que não ia ser nada na vida, aos treze anos encanta todos com sua arte.

Virou artista.

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