domingo, 23 de agosto de 2009

A ARTE DE LUCIO por Omar Franco

Ao ser apresentado à arte de Lucio senti saudade de quando eu era ainda um menino do interior de Minas Gerais. Achava que o mundo não ia muito além das montanhas que cercavam a cidade onde vivia. Mas como o meu universo era vasto, infinito, não havia tinta e nem papel que desse conta de tanta produção. Lucio não economiza telas, tintas e espaço. Ele se apropria de grandes áreas com gestos largos. O movimento do seu corpo dá o compasso e seu braço trabalha como um raio preciso, que corta a tela com pinceladas generosas, sem arrependimentos. O seu mundo é abstrato, dinâmico e vibrante.

O pintor e a pintura se misturam e se entendem. O resultado obtido proporciona-nos uma sensação de liberdade, de desprendimento, de alegria que só vivenciamos quando ainda somos crianças. Suas telas expressionistas nos devolvem a espontaneidade e a coragem que perdemos, quando nos tornamos adultos secos e quebradiços.

Suas tintas são fortes e puras. A combinação de cores primárias próximas umas das outras criam em nossa retina uma pintura invisível com as cores complementares da pintura real. Na verdade, Lucio pinta duas telas em uma. Uma está na parede e outra na sua retina, ambas maravilhosas. É o uso da cor inexistente.

Ele faz tudo isso de forma intuitiva, pois isto é assunto para a física da cor e ele é um artista e não um cientista, embora no fundo ambos sejam a mesma coisa. É fácil perceber, observe um detalhe de sua pintura onde os vermelhos estejam próximos aos azuis, verdes ou amarelos, fixe o seu olhar nesse detalhe por alguns instantes e depois olhe imediatamente para uma parede branca próxima e aguarde alguns segundos sem piscar os olhos, você terá uma surpresa.

Lucio não poderia ser outra coisa na vida. O menino tem pedigree. Vem de uma família genial. Come arte o dia todo. É filho do artista plástico Lourenço de Bem com a L Danezy, Lurdinha para os amigos, joalheira premiada internacionalmente. Seus avós paternos, Ailema e Glenio Bianchetti.

Lucio tem uma intimidade ancestral com a linguagem visual, que dá a ele uma dimensão maior da vida, a arte o equipa com um sentido amplificado, de modo que o mundo seja compreendido em sua razão mais pura e profunda. A arte nos habilita para a civilidade, tão em baixa em nosso tempo. A arte foi feita para que com ela possamos ousar e romper fronteiras. Lucio sabe disso.

Omar Franco
Brasília, setembro de 2008.

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